Perdendo os cabelos...

  O apoio da família e dos amigos é fundamental para o equilíbrio emocional de todo paciente que sofre de uma doença grave. Além de tudo, quando somos cuidados por algum ente querido, a nossa auto-confiança aumenta e passamos a cooperar mais com o nosso tratamento. Assim aconteceu comigo. Durante os nove meses que permaneci em São Paulo, meus familiares se revesavam organizadamente numa escala de acompanhantes de fazer inveja a qualquer hospital de alto nível. Eles me ajudavam muito, fazendo múltiplas tarefas, seja me levando para as consultas ou para as sessões de quimioterapia, fazendo as compras da semana, cuidando da minha alimentação e também me proporcionado momentos de lazer e descontração que me faziam esquecer um pouquinho da minha doença. Deus é tão bom comigo que mandou uma das minhas sobrinhas queridas estudar em São Paulo. Os meus dias agora podiam ser compartilhados com toda a vibração e energia de uma adolescente na flor da idade. Além de ganhar uma nova filha, ganhei um lar em São Paulo onde pude desfrutar de amor, carinho, cuidado, conforto e de toda a estrutura necessária para lidar no dia a dia do meu tratamento. 

   Conforme o médico havia me alertado, uma das coisas que mais cedo ou mais tarde iriam me acontecer seria perder os meus cabelos. Pra quem sempre teve uma farta cabeleira isso assustava muito! Dia a dia, ao passar a mão na cabeça ou ao lavar os meus cabelos, os fios se soltavam inteiros e cada vez mais eu conseguia vê-los aglomerados no chão ou no meu travesseiro. Então tomei coragem e fui num salão que é especializado em fabricar perucas. A vendedora, com muito zelo e simpatia, foi ganhando a minha confiança. Primeiro quis saber um pouco da minha história, ouvir o meu desabafo. Logo notou a  minha apreensão e só depois, passou a me mostrar os diversos modelos de peruca. Quando pegou no meu cabelo , ela logo me disse: ´´daqui a uma semana seu cabelo vai cair todinho... vamos dar um jeito nisso´´. E eu concordei com que ela raspasse a minha cabeça.
Luísa e eu com meu cabelos longos e naturais alguns dias antes de adoecer

  Não sei se caíram mais cabelos ou lágrimas mas, a partir desse dia, passei a ficar feliz ao usar a  minha peruca (feita de cabelo natural) que foi carinhosamente batizada de Nilta, em homenagem à dona do Salão. Lá ela foi cuidadosamente, lavada, hidratada e escovada pois foi fabricada com cabelo humano. Comprei alguns turbantes de tecido que eu usava somente quando estava em casa para descansar o couro cabeludo e ganhei vários lenços lindos mas que eu só usei uma única vez.  Até hoje a única pessoa que me viu completamente careca foi a funcionária do salão... e mais ninguém!! Eu era muito apegada aos meus cabelos, parece que eles faziam parte de mim. E quando passei a me ver sem eles foi um dos momentos mais difíceis. Por isso, amei usar a peruca. Me sentia bem e confortável com ela. Ficava tão natural na minha cabeça que meus próprios filhos que me viam diariamente pelo Skype não perceberam. Achei isso o máximo!



Eu de peruca no final do tratamento

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